sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Preciso de ti...

Durante a noite escura onde tudo acontece sem previsão ou aviso, é durante essa mesma noite que a lua vem aquecer o frio e proteger a noite do escuro.
Ninguém repara, quase que parece nada, mas ela vai aparecendo sempre que o tempo deixa. Aquece as mãos da noite, amarrasse aos braços dela como se fosse um amor eterno e não existisse mais dia, gente ou inferno, apenas noite e lua e o escuro deixaria de ser escuro.
É no silêncio que se amam como loucos, é no silêncio que se conhecem sem mais ninguém pensar e traçam sem tempo e sem pressa cada estrela da sua história. É entre vozes perdidas que riem do escuro, que fazem promessas incompreendidas e que se amam como já não se ama de dia.
São cobaias do amor, amantes do escuro! Não ouvem magia, nem poesia, conquistam cada parágrafo como se fosse o último. Não ouvem gente, porque gente não sabe nada sobre o escuro, vivem implantados no dia e desconhecem o amor que teima a existir entre a noite e a lua.
Amor de meninos que amam sem querer, amam sem motivo e sem necessidade. Amor que se vive sem certezas ou liberdades. Amor prisioneiro que é livre de preconceitos ou conselhos.
Por muito que a noite passe a dia e o dia queira ser sempre dia, a lua vai sempre voltar para proteger a noite do frio!
...como a noite precisa da lua!

Erros que cometi

Neguei-te como menina que nega um doce, disse que não a todos os meus sins, quis tirar-te da minha vida à força como se tratasse de uma página rasgada, apagada pelo tempo, amaçada e perdida no passado.
Esqueci por um segundo cada beijo, cada rosto apaixonado ou cada olhar preocupado, esqueci história de anos e quis ser feliz por um segundo sem depender do teu amor. Corri mundo sem pedir, olhei para todas as estradas e não conheci nenhuma calçada, discuti com a vida e ela discutiu comigo, horas de conversa que valeram tudo, mas não me devolveram nada.
Desmanchei-me em verdades quando te olhei, senti esse cheiro que mais ninguém sente, encostei-me ao teu ombro sem sequer lhe tocar, contei-te segredos sem ser preciso falar. Fui tua sem querer e sem ninguém perceber, sou tua sempre que te olho e te imploro com os olhos sem palavras ou exigências que me ames só mais uma vez.
Horas perdidas e ganhas, certezas devolvidas sem remetente, amor escondido com medo de quem veja, amor envergonhado por não ser amado. Sinto certezas sem as querer ter, sinto medo do hoje e esperanças de um amanha diferente.

Páginas da minha vida

Fui menina sempre que soltei um sorriso sem querer, sempre que pensei que o eterno existia. Fui princesa do meu próprio castelo, vencida quando as lágrimas percorriam o meu rosto e o mundo ficava sem chão.
A menina foi desaparecendo entre as lágrimas, o rosto foi secando e o coração foi criando marcas, a menina virou mulher! A mulher hoje diz te não, vê-te como um capitulo fechado e não tem vontade de o ler. Páginas macias, letras apaixonadas, vírgulas quebradas, palavras escritas em silêncio, amor escondido entre sílabas, promessas ditas entre linhas falhadas, sorrisos escondidos…palavras no meio de sentimentos e sentimentos no meio de palavras. Fui feliz, muito feliz, tão feliz que me esqueci do tempo e o tempo esqueceu-se de mim.
Fui prisioneira do teu amor, fiquei tão cega que eu própria me esqueci de mim. Sou mais que rapunzel do teu castelo, hoje sou cinderela do meu mundo e sei que não preciso do teu beijo para ser eternamente feliz.
Entre linhas e vírgulas soltas, aprendi que é do ponto que preciso agora, um ponto longo, um ponto que me liberte deste capítulo esquecido.
Hoje quero ser pedaço de mim mesma, quero rir com vontade, quero escrever mais que uma palavra, mas não quero cair em cada vírgula, hoje quero ser mulher do meu mundo.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Autorização para amar

Há momentos que valem mais que qualquer palavra, há sorrisos que só precisam do silêncio, há amores que não necessitam, de papel, contrato ou qualquer tipo de jura eterna. Há amores que duram uma vida inteira, mesmo que o tempo não queira.
No meu mundo, que não está bem, nem mal, vai andando como o tempo. É no meu mundo que eu observo de longe o que se passa lá fora, foi do meu mundo que eu encontrei entre mentiras e verdades, este amor que me prende a ele como se fosse meu.
Vivo cada esperança, cada derrota, cada vontade, como se fosse a minha própria vontade, é tão minha, que me agarro com mais força a ela do que as próprias personagens. Sinto-me narradora de um segredo, que ninguém vê, respira ou sente, sinto-me espectadora assídua de um programa fantasma, que mais ninguém conhece, mas que eu decoro cada fala.
Hoje sinto que cheguei ao céu sem chegar, parece que o mundo ficou mais claro e que posso chegar às nuvens, porque entre silêncios, preconceitos e certezas, bastou um sinal e eu vi o mais digno de todos os olhares, vi o amor diante dos meus olhos a pedir se podia amar só mais um segundo em segredo.
Como se nega ou se impede um amor que pede autorização para amar? Um amor perdido no meio dos homens, um amor sem rumo, mas com o caminho traçado, um amor negado em multidão, mas amado no meio do escuro, amado no meio de nada e cheio de gente. Grite quem tem coragem para ficar parado ao ver tanto amor diante os seus olhos, fique calado aquele que não acredita que no amor nada é impossível. Porque eu, vi-o diante dos meus olhos, ninguém me contou ou fez história, foi só mais um segredo escondido no meio de vozes que não valem nada, mas que neste mundo destroem sorrisos e atrapalham amores imperfeitos sem querer.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sonhos gastos

A noite cai tão rápido, já faz muito tempo que o dia parece-me sempre noite. Deito-me em sonhos e caio nos pensamentos que mais ninguém sabe, riu, faço planos no meio de nada, vejo cores, formas e luz, no meio do escuro.
Esta noite não vou sonhar contigo, não quero, já disse que não quero, quando começo não consigo parar, esta noite vai ser diferente, mesmo que me venhas assombrar durante a noite, eu vou negar-te, não quero acordar e sentir que passou um tufão na minha vida.
No meio de palavras que não valem nada, adormeço sem saber porquê e quase que consigo tocar em cada vontade minha, está tão perto, tento resistir a cada palpitação, afasto-o dos meus olhos, mas no escuro traço cada forma sem ver.
A lágrima tenta escapar, mas eu sou forte, luto contra cada pesadelo que tende a passar por mim, afasto vilões e malvados e a cor volta, consigo ver sem que mais ninguém veja. Volto a fazer planos, imaginar o passado e mudar cada coisa que não fiz, agarro-me com força a este sonho, esqueço as vezes sem conta que o neguei, quero-o como nunca quis outro.
O sonho escapa-me entre os dedos, fica frio de repente e os olhos querem abrir como acontece todos os dias. Quando estou quase a ser princesa do meu castelo, cada pedacinho do meu mundo encantado desaparece.
Não vou chorar, hoje não, vou acordar e ser rochedo, vou ser mulher do meu mundo e esquecer que vacilei em segredo, o sonho vai ser puro esquecimento e a felicidade, na realidade uma ilusão e quando chegar a noite, vou negar-te ainda com mais vontade e depois escorregar nos teus braços como se a noite fosse para sempre noite.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Lugares que desconheço

Olho em redor e nada me pertence, nada me aquece, nada me prende a este chão gelado. O aconchego que encontrava, agora não encontro. Estamos separados, porque estas paredes já não me cativam, as cadeiras já não transportam nomes, transportam rostos sem cara, esta história já não me pertence!
Já não tem o mesmo cheiro, o tijolo é só tijolo e o toque que oiço, é o passado destruido por este presente. Desconheço este lugar, assusta-me desconhece-lo, mas nem lhe reconheço o sorriso, hoje é apenas esquecimento, memória, falta-lhe as pessoas, histórias contadas, segredos falados, falta-lhe vida. Tu já foste casa, família e adolescente, hoje não passas de nada, és apenas o que foste num outro dia.
Lugar que eu amei, fixei-me com garra, lugar onde eu me perdi, que eu conheci e me cativou, lugar que hoje eu desconheço sem querer!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Dono do tempo

Segredo-te a minha vida, como nunca contei a ninguem. Digo-te todos os pontos e confesso-te todas as virgulas que apareceram no meio do meu caminho.
Cale-se tudo, homens, mulheres, que falem apenas de sentimentos, que se envolvam com estes como se não existisse mais parágrafos neste texto. Que o tempo pare, que vai com pressa! Pare o mundo, porque eu agora quero amar-te sem que ninguem interrompa, quero amar cada palavra e perceber todos os significados.
Não sei tratar-te por tu, nunca vou saber, não te sei explicar, mas ninguém ia entender. Amo-te tanto primeiro amor! Primeiro? Existe outro? Quem foi o poeta, escritor, médico ou professor, que foi ingénuo para pensar que existiria outro? Não há nenhum como o primeiro. Amarra-nos sem querer, prende-nos às memórias, conquista-nos a cada pulsação mais acelerada, conhece-nos sem nos conhecer. Ai saudade, saudade que eu tenho de ser tua e tu meu, viver nesse jogo, sem tempo, nem regras, esse jogo nosso e só nosso, que nem nós próprios somos dignos de o controlar. Consigo sentir-te quando fecho os olhos, imaginar cada traço do teu rosto, és tão meu sem me pertenceres, és o meu primeiro amor, o meu maior amor!
Vem jogar comigo este jogo, vem ser meu, faz de um segundo uma hora e uma hora numa vida inteira, vem ser dono do tempo, vem fintá-lo sem ele estar à espera. Mas vem, vem ser meu mais um segundo!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Amo-te, porque te amo

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade