domingo, 6 de setembro de 2009

O Dia

Olhos esbugalhados de cor esverdeada e brilho só teu, rosto redondo que marca uma vida, boca rosada e sorriso inconfundível em qualquer parte do mundo. Pele que abraça e esmaga dor, mãos que agarram e aparam as mil e uma quedas, orgulho escondido no meio de ti, sonhos protegidos de um mundo perdido, força de mulher em corpo de menina.
Vida pequena, histórias infinitas, sinto que foi ontem, que não passamos de meninas assustadas, agarradas a tudo o que foi nosso e que hoje é apenas história e parte do nosso passado.
Não te imagino recém-nascida, não andei contigo de escorrega, nem brinquei contigo às bonecas. Conheci-te quase menina crescida, partilhaste os teus sonhos, as tuas vontades, desvendámos passado, presente e futuro e em tempo nenhum passámos a ser apenas uma, passaste a ser parte de mim.
O dia do ano mais importante que o Natal, o teu dia, o dia em que eu digo ao mundo “a minha melhor amiga faz anos”, o dia que não diz nada para muitos, passa ao lado, mas para mim, foi o dia que este mundo perdido conheceu a minha melhor amiga, a melhor amiga de ontem, de hoje e de amanha, a melhor amiga para a vida. Todos os anos penso que tem de ser especial, sem fogo-de-artifício, sem espectáculo e aplausos, mas com magia, este ano não foi diferente, empenhei-me em obrigar todos a irem para a tua porta de casa ontem até chegares e sim, chamaram-me maluca. Maluca? Só se for por esse sorriso, por esse brilho que não se explica, maluca sim, mas só se for para te ver feliz. E passa-se um ano, mais um ano sem “surpresa”, mais um ano sem multidão, sem lágrimas e sem beijos, passa-se mais um ano sem tudo o que eu imaginei, passa-se mais um ano de sonhos falhados, mas a promessa que para o ano é que vai ser mesmo especial.
Rimos uma da outra e chorámos de nós próprias, fizemos promessas sem nunca prometer, tu viraste base e eu volante e juntas somos as mais brilhantes acrobatas de uma vida cheia de tudo. Uma vida que espera pelo ano seguinte que espera pelas vozes sonantes a gritarem “surpresa”, mas certamente uma vida recheada de anos, de sonhos. Uma vida guiada por uma espectadora assídua, porque nós somos mais que tempo, que novela ou época, nós somos para a vida!