domingo, 6 de setembro de 2009

O Dia

Olhos esbugalhados de cor esverdeada e brilho só teu, rosto redondo que marca uma vida, boca rosada e sorriso inconfundível em qualquer parte do mundo. Pele que abraça e esmaga dor, mãos que agarram e aparam as mil e uma quedas, orgulho escondido no meio de ti, sonhos protegidos de um mundo perdido, força de mulher em corpo de menina.
Vida pequena, histórias infinitas, sinto que foi ontem, que não passamos de meninas assustadas, agarradas a tudo o que foi nosso e que hoje é apenas história e parte do nosso passado.
Não te imagino recém-nascida, não andei contigo de escorrega, nem brinquei contigo às bonecas. Conheci-te quase menina crescida, partilhaste os teus sonhos, as tuas vontades, desvendámos passado, presente e futuro e em tempo nenhum passámos a ser apenas uma, passaste a ser parte de mim.
O dia do ano mais importante que o Natal, o teu dia, o dia em que eu digo ao mundo “a minha melhor amiga faz anos”, o dia que não diz nada para muitos, passa ao lado, mas para mim, foi o dia que este mundo perdido conheceu a minha melhor amiga, a melhor amiga de ontem, de hoje e de amanha, a melhor amiga para a vida. Todos os anos penso que tem de ser especial, sem fogo-de-artifício, sem espectáculo e aplausos, mas com magia, este ano não foi diferente, empenhei-me em obrigar todos a irem para a tua porta de casa ontem até chegares e sim, chamaram-me maluca. Maluca? Só se for por esse sorriso, por esse brilho que não se explica, maluca sim, mas só se for para te ver feliz. E passa-se um ano, mais um ano sem “surpresa”, mais um ano sem multidão, sem lágrimas e sem beijos, passa-se mais um ano sem tudo o que eu imaginei, passa-se mais um ano de sonhos falhados, mas a promessa que para o ano é que vai ser mesmo especial.
Rimos uma da outra e chorámos de nós próprias, fizemos promessas sem nunca prometer, tu viraste base e eu volante e juntas somos as mais brilhantes acrobatas de uma vida cheia de tudo. Uma vida que espera pelo ano seguinte que espera pelas vozes sonantes a gritarem “surpresa”, mas certamente uma vida recheada de anos, de sonhos. Uma vida guiada por uma espectadora assídua, porque nós somos mais que tempo, que novela ou época, nós somos para a vida!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sinto muito

Sinto tudo no meio deste nada que me preenche de gente, sinto me grande, pequena, gorda ou magra, mas sinto-me acima de tudo vazia de sentimentos, vazia de vontades, vazia de pessoas que sentem como gente.
Sinto que este mundo virou outro qualquer, sinto o que era pesado, agora leve e quase esquecido, sinto que o amor, esse anda envergonhado e o tempo cada vez mais forte, mais rápido, cada vez mais o tempo não tem tempo nenhum.
Sinto falta das gargalhadas desconhecidas, dos beijos desavergonhados de amor, das cartas pirosas e dos olhares apaixonados, sinto falta que se sinta, que se agarre, que se prenda e no momento haja apenas o presente.
Sinto falta das paixões que tive, dos amores que conheci, dos amigos que juntei, dos outros tantos que separei, sinto falta de romance, de suspiros e de sonhos, sinto falta de risos envergonhados, de abraços apertados, sinto falta de ver o que há muito perdi.
Sinto-me presa ao que só eu vejo, sinto-me feliz com o que só eu sinto, sinto-me tua sem rótulos ou notícias de última hora, sinto arrepios, desfaço-me em sorrisos, multiplico-me em vontades, sinto que o hoje dura para sempre, se o hoje for contigo.
Sinto, sinto muito, que os outros que moram lá fora vão gritar como loucos, impedir como feras e ditar o fim ao que é nosso sem ninguém saber. Sinto que o mundo deixou de sentir à muito tempo, vive de caras, de noticias, de moda e de dinheiro e tudo o resto deixou de tempo para existir, quando se cresce, o mundo vira amargo e as pessoas deixam de querer sentir como gente.
Sinto que não sei o que sinto e sinto que quero sentir sempre mesmo que nunca aprenda a sentir como gente, afinal estamos aqui para sentir entre a gente!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fim de linha

Às vezes penso que perdi o jeito ou simplesmente esqueci as palavras e preferi fugir deste espaço onde me confesso sem ninguém ver. Outras vezes, penso que não sou nada sem letras, que me esfolo entre a vida e só este espaço me entende, onde escrevo o que quero e não quero, apenas escrevo parte da minha vida, que em minutos vira parágrafos, afirmações, perguntas e quase sempre termina com uma conclusão, que resume o meu eu.
Tudo o que queremos e não queremos, passa sem medo, passa sem tempo e com pressa, é uma corrida de sentimentos, de momentos e uma certeza de saudade.
Fim de linha, terminam sonhos, terminam palavras, termina tudo e não acaba nada, é apenas um fim de linha, e um começo de um parágrafo.
Uma vida cheia, pequena, genuína, uma vida sem novelas, sem textos estudados ou sentimentos predefinidos, uma vida autêntica e cheia de tudo. Um mundo encantado, onde eu olho mil e uma histórias, descodifico sorrisos e derreto-me em gestos.
Uma amiga para a vida, um amigo sem juízo, um amor mal resolvido, uma história sem sentido que dá voltas aos dias e passa à perna a muita gente, mas é forte como pedra, frágil como areia e eterno como os grandes, é fogo quente e chama acesa quando meio mundo pensa que é gelado como gelo.
Uma família como as outras e diferente de toda a gente, uma lágrima de saudade e um desespero por justiça, um dia bom e sete dias maus, uma revolta que não se explica e que muitos tentam explicar, o desejo que fica para a vida, sem nunca se realizar, uma família unida, depois do mundo desabar.
Um liceu cheio de tudo que de repente fica sem nada, uma tarde de sorrisos e uma manha da cara zangada, uma conversa de carteira e uma lágrima de casa de banho, uma confissão num apontamento e uma gargalhada num banco velho e cansado. Um sim no recreio e um não na vida, um teste mau e uma boa noticia, um abraço apertado e uma zanga complicada, um passado bem guardado e um presente de cara lavada.
Alguém que conhecemos entre sorrisos envergonhados, que nos cativa pelas palavras, pelos olhares, encontramo-nos em cada abraço, em cada saudade, em cada conselho ou palavra, prendemo-nos um ao outro sem querer, e num segundo somos mais muito mais do que apenas conhecidos.
Fugimos do bom e do mau, fechamos a cadeado o que é nosso, impedimo-nos de tudo e preferimos não viver a sentir o proibido, choramos lágrimas mudas, dizemos não à saudade, somos orgulhosos sem saber o significado e por fim rendemo-nos a tudo o que não conhecemos, que não queremos, mas que sem querer desejamos e temos vontade que por um segundo seja nosso e que dure para sempre.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Monstro

Não esqueço, simplesmente não arranjo vontade, não desapareço nem evaporo apenas me escondo das letras quando os números e a ciência atropelam os meus pensamentos.
Amanha? Amanha, é o dia mais importante da minha vida, vão ser as três horas mais rápidas de sempre a ditar o meu futuro, para trás ficam sonhos, desejos e vontades, mas amanha quero ser mais que grande, exijo ser a melhor até ao último toque. Quero sentar-me naquele lugar que um dia foi meu e despedir-me sem um único adeus, quero recordar o que vivi naquela sala sem por um segundo ter vontade de voltar, quero arrumar o passado no passado, fechar o livro com história prolongada, guardar parte de mim e recordá-la para sempre.
Passou um ano e amanha será o primeiro dia do resto da minha vida, sinto pânico de falhar, de errar por algum motivo, de bloquear sem motivo algum, de perder-me no meio dos números e não encontrar palavras para os explicar e ficar presa a uma história que deixou de ser minha à 365 dias atrás.
Fico perdida quando penso que posso voltar a ficar num lugar vazio e cheio de caras, num lugar frio que já não me conhece, arrepio-me de imaginar esses 365 dias de novo na minha vida a prenderem-me ao que eu já à muito me despedi.
Amanha, vou agarrar em mim e nos outros todos que fizeram parte de mim um dia, vou sentá-los ao meu lado naquele lugar que foi nosso, vou recordar cada momento e cada pessoa do meu secundário que me amarrou àquele lugar todos os dias, vou calcular a complexidade dos sorrisos, a probabilidade das lágrimas e até a trigonometria dos amores mal resolvidos, vou elevar ao cubo cada rosto que passou por mim naquele lugar, e por fim guardar a nossa história num gráfico com pontos marcados e conhecidos, em traços vincados e jamais esquecidos, vou guardar parte do meu mundo num gráfico que começa, percorre intervalos eternos, mas que termina sem recuos.
Saudades? Ai saudades de tardes, manhas, saudades do passado que não volta, que se guarda e recorda, saudades dos beijos, abraços, palavras e gargalhadas, mas no entanto não foi o secundário que fez de mim gente, foram os rostos, os sorrisos e os nomes que fizeram de mim mais do que menina, hoje uma mulher, pronta a enfrentar o monstro, preparada para traduzir as minhas vontades em números, senos, tangentes, sem nunca em momento algum colocar limites nos meus sonhos, porque esses vão fazer de mim pedacinho do meu próprio futuro.

terça-feira, 17 de março de 2009

O teu primeiro amor

Choras de saudade, de vontade ou impotência, sentes que o mundo levou parte de ti, levou o teu chão e céu, sentes que nada faz sentido e tudo foi tempo perdido. O teu sono torna-se leve, vulnerável a cada chapada do passado recordada, adormeces sobressaltada e encontras-te em pesadelos e sonhos negados.
O tempo vira longo como o dia, o mês ou o ano, tudo parece o dobro, menos o teu sorriso. Isolas-te do mundo, dás parte de ti a um amor perdido, montas cada peça do jogo e fazes mil e um planos para conquistares de novo o teu mundo. Perdes-te em palavras ditas para ti, em vontades guardadas nas tuas paredes, envolves-te na saudade e desejas ficar ali para sempre protegida do mundo e dos olhares indiscretos à tua tristeza.
Sentes que vais ficar ali para sempre, agarrada ao teu amor, à tua história encantada sem final feliz, prendes-te a uma certeza que já não existe. Culpas-te do bom e do mau, rebaixas-te ao mais profundo lugar e compreendes que jamais vais ser feliz, que será impossível amar como amas o teu primeiro amor.
Cais em ti, passam pelos teus olhos imagens de um amor feliz, um amor ingrato e um amor magoado, imagens que tu construíste, que tu lutaste e alimentaste, imagens que o prefeito destruiu como lego ou castelo na areia, imagens que tu montaste vezes sem conta, que amaste até ao último segundo e que vais guardar para todo o sempre.
Dizem-te o justo e o injusto, o mais próximo e o mais desconhecido, palpitam a tua vida como novela de horário nobre, um dia colocam-te no pódio, no outro bem perto do chão. Engasgas-te em palavras, perdes-te em certezas, solta-se um grito mais alto e contas as tuas próprias vontades, desejos e ambições, confessas o teu amor sem medo e ouves um não sem demora. Confrontas-te com o teu presente, passado e futuro, sentes um beco sem saída, uma porta fechada.
Discutes com a vida e ela discute contigo, sentes-te usada, mal tratada, sentes que nada vai melhorar e vais para sempre ficar magoada. O dia parece sempre noite, as lágrimas não secam nem por nada, os teus pedidos são ignorados pela vida, o destino tende a cruzar os vossos olhares, o teu coração fala o que a tua boca quer esconder.
O dia vai ficando mais claro, o príncipe deixa de mandar no castelo, passa a ser miragem no deserto, gaveta fechada e arrumada, quando andas deixas de olhar para traz, quando dormes deixas de pensar no beijo dele e quando acordas sentes que tens um mundo lá fora para descobrires. Descobres que é a tua vez de fechares todas as portas, de encurralares todas as entradas e tu própria acreditares que ele não passa de passado, de história vivida e acabada, que hoje é apenas parte da tua adolescência, um sonho de meninos e de um amor apaixonado.
Ouves o dia lá fora, sentes o cheiro do mundo, olhas as caras novas e prendes-te a uma vida sem promessas. Respiras o que já não sabias respirar, afastas todos os teus sonhos passados, vês claro, vês escuro, vês vermelho e amarelo, vês tudo sem precisares da outra metade.
Sussurra-te uma vontade maior que tu próprio, para cresceres entre a magia e a realidade, para enfrentares o sol e a chuva e para jamais negares o novo dia.
Expiras segredos e inspiras vontades, escondes uma história, longa ou curta, mas vivida e passada. Entregas-te ao fim, não lutas mais contra as palavras, deixas-te ir como onda adormecida, cansas-te do não e do sim, cansas-te do teu próprio gostar. Integras-te noutro lugar, noutra história ou noutra promessa, mas deixas esta passar, porque já vai longa e sem sentido.
Um dia olhas para traz com um sorriso, a mágoa passa-te ao lado, o amor traz-te saudade, percebes o quanto cresceste, o tão grande que foste e tens orgulho em cada passo teu, o mau torna-se quase invisível, o bom guardado como magia e ele vai ser apenas e para sempre o teu primeiro amor.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Esta é a hora

Passaram mais de muitos dias, desde o dia que vim ao mundo, passaram mais do que muitos anos desde o dia que descobri o amor, passaram mais do que muitos meses desde o dia que eu descobri a derrota e nem por isso o mundo parou, estagnou ou deixou de existir.
Esta é a hora, a hora de mudar o que jamais vai ser mudado, de acreditar que o passado já vai longe e o presente com uma vontade enorme de ser vivido.
Esta é a hora, a hora de negar todas as promessas, sonhos ou irrealidades que me pararam no tempo como ponteiros sem arranjo.
Esta é a hora, de lhe ligar e dizer o quanto fui feliz sem perceber, é a hora de dizer as vezes que chorei e as vezes que ri como tonta.
Esta é a hora, de colocar de lado as diferenças, a mágoa e esquecer a magia dos olhares cruzados.
Esta é a hora, porque a hora tem tempo, nome e não pára como gente, temos de apanhar esta hora, antes que ela nos escape no meio da rebeldia do tempo. A hora é curta, a hora é longa, a hora é aquilo que nós quisermos, a hora é hoje e não amanha, nem ontem, a hora é história, é presente, é amores vencidos e amores vencedores.
Esta é a hora de acreditar que passarão mais dias e muitos dias, desde o dia desta hora, que virão muitos amores, desde o dia desta semana e que lá fora, onde existe horas e mais horas perdidas e prontas para serem agarradas, está um mundo novo à minha espera.
Esta é a hora, a hora que se rasga cartas ditas de nada, onde se guarda amores desajeitados, é a hora que vai carregada de saudade, desejo ou vontade, mas uma hora que o tempo não deixa voltar.
Esta é a hora de lembrar cada pedaço mau, cada pedra no meu caminho, é a hora de negar tudo o que eu quero, de odiar tudo o que eu amo, de adormecer cinderela e acordar noutra história.
Esta é a hora de querer o que não quero e de dizer o que nunca disse, de ser o que nunca fui e dizer não àquilo que sempre disse sim.
Esta é a hora, a hora de voltar a ser feliz!

segunda-feira, 9 de março de 2009

Nevão sonhado

Dias de amores-perfeitos, dias de nada cheios de tudo, sorrisos sem graça no meio do infinito, quedas partilhadas sem medo do tombo, vontades conquistadas e saudades de um mundo novo. Não passas de nada, a não ser miragem, foste neve na minha vida e gelo que passa sem volta, levaste-me ao pico mais alto e fizeste-me acreditar em príncipes. Não és amor, nem paixão, muito menos casamento ou para sempre, és o sonho que passa e não volta, o rapaz com graça que nos marca na praça. És o olhar de ternura, as palavras de vontade, és o sonho de uma madrugada, a certeza de uma serra, és o nevão que passa sem deixar mais rasto.
Saudade do silencio que murmurámos juntos, das vezes que eu te toquei sem tocar, das palavras ditas no nada e compreendidas por gestos, lágrimas derramadas sem choro, desesperos partilhados sem barreiras, almas encontradas e escondidas no alto mais alto da montanha.
Dias esquecidos do resto do mundo, sem medos acumulados, sem desilusões contínuas, protegida por o desconhecido perfeito, abraçada ao tempo, perdida em cada pegada nossa, sem passado, sem futuro, apenas nós, no meio do sonho contado ao segundo, sonho jamais regressado, mas sonho jamais esquecido.
O frio aqueceu-me o que o calor gelou, a neve foi brasa no meu corpo, foi conforto no que já não conhecia vontade ou sorriso, foste mais que miragem, foste o início quando já não havia começo.
Foste príncipe sem cavalo, foste neve derretida, foste sonho sem sentido e beijo congelado, foste eterno durante segundos e passageiro para o resto da vida.
Mi príncipe de nieves!

terça-feira, 3 de março de 2009

Escapar da tua vontade

Gostava de dizer que entendo sem entender, gostava de fechar os olhos e ver claro onde vejo escuro e gostava que me visses como gente e não como boneca do teu mundo.
Sou a tua areia, sou a pegada mais profunda do teu caminho, amo-te mais que tudo meu mar, fui feliz em todas as tuas ondas, adormeci em cada baloiçar do nosso amor e ninguém vai apagar a nossa praia.
Amor, entrelacei-me ao teu mundo, às tuas vontades, pisaste-me sem querer ou por querer, mas o tempo já vai longo, as ondas distantes e a vida cansada de esperar por ti.
Hoje, só hoje amor, deixa-me escapar-te entre os dedos, deixa-me apanhar este vento e perder-me noutro vendaval. Sofre, chora, mas enquanto não fores homem, não me olhes, não me pises e não me prendas ao teu mar.
No Outono as folhas caiem, ninguém as amarra à árvore quando sabemos que elas têm de cair. Quando os filhos crescem voam do ninho, não lhes podemos cortar as asas com medo que não voltem. Na vida há aqueles que entram e ficam para sempre e outros que passam, aplaudem, gritam, deitam foguetes e fazem a festa, mas acabam por partir.
Acorda, isto é mais que um jogo, muito mais que um sonho, espancaste o nosso amor, agora é a minha vez de escapar da tua vontade!

domingo, 1 de março de 2009

Menina de colo

O peso de já não ser menina sente-se em todos os sentidos, desejo baixinho não ter crescido, começo a dar valor a todos os centímetros a menos que tinha. Baixo a cabeça por segundos, encontro-me comigo mesma e percebo que a vida mudou, que todos os dias muda e que eu já não sou menina de colo. Imploro com os olhos um carinho sem eu estar à espera, fico ansiosa por um abraço quando caio e sonho por momentos que vou me levantar sem sequer me mexer.
Saudade de baloiçar de colo em colo, de eu ser apenas sorriso e não conhecer a palavra “saudade”. Perco-me em todas as recordações passadas, que não voltam, nem se mexem, estão mortas no mundo de hoje, mas são eternas nos olhos de menina. Lembro-me das gargalhadas, das pessoas que passaram pelos meus olhos, recordo-me do que gostei e do que gostava de esquecer, recordo a minha vida num segundo, percebo que ela ainda é pequenina, mas que hoje, já tem tão pouco de menina.
Cresce uma vontade em mim de gatinhar, rir de tudo e de nada, agarrar na boneca mais pomposa e fazer dela a rainha da festa, apetece-me sonhar com o príncipe que não existe, mas que nos ilude durante uma vida de sonhos.
Entrelaçar-me nos beijos da mãe, nos beijos do pai, nos beijos refinados dos avós, ficar presa a um mundo pequeno, a um mundo protegido. Tropeçar só no recreio, assustar-me só com o papão, chorar só por fome e rir, rir do mundo, das pessoas, do sol e da chuva, rir com vontade por ser só menina de colo.
Queria amarrar-me àquela idade, sonhar em ser grande, mas nunca o ser na verdade, imaginar beijinhos de namorados, calores apaixonados, casamentos desejados, dias perfeitos e um amor encantado, brincar aos príncipes durante horas no meu mundo de cinderela. Mas só isso, uma brincadeira no tempo, esquecida e vivida apenas no quarto de menina, sorrisos felizes sem conhecer a realidade, ilusões perfeitas num mundo realmente imperfeito, felicidades escondidas durante sonhos prometidos, mas nunca concedidos.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Sem ditar o fim

Este é o momento, sinto tanta vontade de ir, sinto que não me podes mais prender sem razão, que não podes chegar e pegar como se fosse sempre teu. Quero crescer, aprender a rir sem ti, quero ganhar asas sem as ter, quero sentir o que tu sempre sentiste.
Acabaram as lágrimas que eu ainda tinha, acabou a esperança do príncipe encantado, apareceu uma vontade de ser gente, de me amarrar a mim e não largar mais. Acabou as vontades, os segredos ou as verdades, acabou o bom e o mau, acabou a história que nunca teve fim, mas que acabou.
Hoje quero gostar de mim, posso? Contigo sinto-me roupa que se troca depois de usada e no meio de tanta troca sinto-me cada vez menos gente. Cansada dos outros que não valem nada, mas nem por isso se calam, de bocas sábias ou simplesmente idiotas que tendem a abrir os olhos da princesa apaixonada.
Que o narrador deste romance esqueça as exclamações, as interrogações, que não ouse colocar mais parágrafos, que morram as metáforas, desejos ou promessas, que se percam as reticencias e que se encontre um ponto final sem ditar o fim.
Hoje não quero sentir nada, quero ser só linha adormecida de uma história que ficou por contar!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sorrisos de noite eterna

Não existe palavra, não há explicação e dificilmente haverá um sentimento! Foi muito mais, do que eu esperava, do que eu merecia e do que eu sonhava. Foi o meu dia, foi o meu sorriso mais matreiro, foram os meus sorrisos por inteiro.
Senti medo, desconfiança, parecia que nas minhas costas tudo se formava e eu nem dava conta, gente magra, alta, baixa, gorda, gente perfeita, os melhores pais, família e os melhores amigos que eu já vi neste tempo.
Bastou tocar no interruptor a medo, bastou a luz aparecer nos meus olhos e vi um por um, todos os sorrisos que rodeavam o meu quarto que parecia tão pequeno para tanto amor. Fugi de medo, de riso, de emoção, fugi por ver em cada sorriso vontade de me fazer sorrir. Ouvi aplausos, ouvi risadas, ouvi palavras não ditas naqueles pequenos minutos, ouvi o meu coração que quase explodia de dentro de mim.
Rendi-me a cada olhar cintilante que me dizia sem falar “estou tão feliz por estar aqui”, estava encantada com a luz, a felicidade, estava presa a cada amigo que estava ou não estava, mas eu sentia ali o mundo inteiro a olhar para mim.
Não se mostra, não se guarda, partilha-se, agradece-se e quando um obrigado não é nada, damos o melhor sorriso e isso basta.
Noite mágica, noite única, perfeitos silêncios e autênticas gargalhadas, por segundos tive vontade de me abraçar àquela noite, àquela idade e àqueles amigos e não os largar nunca.
Senti-me tão mas tão pequena no meio de gente tão grande por dentro, no meio de gente que tem vida, que tem tempo e também tem falta dele e mesmo assim me sorriu a noite inteira e fez de mim a mais feliz!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Meu mais que tudo

Tão maior que tu, mesmo que a minha altura seja pequena, tão mais crescida, mesmo que o medidor não o diga, tão melhor, mesmo que para mim tu sejas perfeito.
Sinto-me tão bem, tão realizada e tão feliz, fui bom, fui paixão, fui amor, fui uso e desuso, fui lixo nas tuas mãos, fui tudo o que devia e que não devia ser.
Lembraste, fiz mil e um filmes, tive medos sem fim, caí como tonta, tive medo do escuro, confessei-te a vontade mais louca e o segredo mais profundo, fui tão tua meu amor.
Será que a idade permite ter outro amor tão ingénuo, tão aventureiro e tão descoberto aos nossos olhos? Será que é possível chorar por amor noites inteiras, duas vezes seguidas? Será que consigo ser tão menina, tão mulher e tão livre com alguém como fui contigo meu amor?
Ficas-me a dever uma conversa, a conversa em que não dirias nada, a conversa que eu iria chorar sem vergonha, que eu iria dizer tudo o que não te sei dizer, conversa que me deves à seis meses e vais dever sempre. Será que ainda há tempo para termos?
Escuta-me, as lágrimas estão a secar, a mágoa fica, mas a porta está a ficar mais pequenina, um dia não te vou deixar mais entrar. Não vais ter espaço, lugar ou direito de entrar, espantar, magoar e sair com o espectáculo a meio. Sou mais do que festa, animação ou repouso, sou gente, gente que te ama tanto, sou mais que tu, muito mais, sou mais que eu própria.
Meu amor, eu sou a força e a história do nosso amor e tu estás a perder-me!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Porquê?

Porquê? Porque tenho de ser boneca de trapos nas tuas mãos, porque me mentes e porque o meu choro é te indiferente? Porquê? Porque me deixas cair sem destino?
Há quem peça coisas, que se agarram, se usam, se gastam e deitam fora. Eu, queria ter a força, a coragem e a humildade para te perdoar, perdoar as ausências, as mentiras e os silêncios. Gostava de ser capaz de parar o mundo, correr até ti e dizer-te cada palavra que o meu amor não permite. Chamar-te nomes, nomes feios, mostrar-te em filme cada lágrima que me fizeste chorar, mostrar-te todas as minhas saudades e o quanto tu erraste sem sequer reparar que isso me ia magoar.
Chorei noites inteiras, noites eternas, chorei por ti, por mim, chorei por cada erro teu e perdoei-te mesmo sem eu querer. Entendi o que mais ninguém entende, perdoei o que dizem ser imperdoável, estive sozinha, perdida sem rumo e nem por um segundo encontrei a tua mão, passei por cima do amigo distante, do namorado sufocado, lutei por cada pedra, construi cada caminho, gritei, perdi, reconstrui e também quase desisti, mas nunca fiz de ti boneco, nem passou por mim vontade de te tirar o chão.
Ouvi conselhos, sermões, ouvi o que queria e o que não queria, mas não houve uma frase minha que não acabasse com “mas eu gosto dele”. Venha gente entendida ou desentendida, venhas tu frio ou quente, jamais farei de ti boneco, porque a vida e as pessoas são muito mais do que uma brincadeira de meninos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Odeio-te amor

Odeio-te, por cada palavra dita e gesto negado!
Destruíste o prazer, encheste os meus olhos de palavras e de desejos, quebraste-os por medo ou vontade antes mesmo de os realizar. Às vezes sonho em ter menos anos no meu B.I., em ser profundamente infantil e só gostar de ti porque o dia é bonito, certamente teria mais sorte, não passo de uma menina sem interesse porque te ama, porque o mostra todos os dias e luta por ti como louca.
Gostava que por magia um dia te faltasse a menina sem graça, gostava de ver o teu desespero ao perceberes que a tinhas perdido, sem saber onde andar ou por onde ir, rodeado de meninas que te querem, mas sem a menina que te quis mais do que o resto do mundo.
Olha-me nos olhos, olha-me de uma vez e diz me que eu não passo de nada, diz-me que só sorriste para mim por desespero, carência e vontade de ter alguém caído aos teus pés, diz-me que foste egoísta o maior de todos os egoístas e mais uma vez só pensaste em ti. Susurra-me ao ouvido que não tens saudades dos meus lábios, que não queres lembrar o meu corpo, diz que me mentiste e o fizeste por maldade, prazer e capricho.
Odeio-te, odeio-te por não acreditar nos teus medos, por os teus olhos dizerem que me querem, odeio-te porque acabaste com a pessoa que eu amo, porque trouxeste até mim alguém frio e distante que me nega e me afasta sem sentir um pingo de saudade em cada palavra.
Odeio-te por seres o meu primeiro amor, o meu maior amor, por seres o meu príncipe sem cavalo e por destruíres cada pedacinho do meu castelo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amo-te tanto

Quadro pintado em frente aos meus olhos, correrias passadas, gritos aflitivos, esperanças perdidas e morte chegada. E no meio das cores escuras e choros tristes, estava ele, deitado sem poder dizer uma palavra, perdido no tempo e esquecido pela vida. Ela olhou-o, sentiu a impotência, a revolta e a injustiça num só segundo. Regressou ao passado 20 anos, correu junto dele como se as dores não lhe pesassem, como só o BI ditasse a sua idade, correu como louca sem destino, agarrou-o com força de mãe, abraçou-o, beijou-o como se ele pudesse retribuir cada beijo, amou-o como se aquele momento fosse eterno.
Desejou vezes sem conta beijá-lo só mais uma vez, desejou protege-lo por mais um segundo, prometeu-lhe ao ouvido voltar a ser mãe e ele filho.
Promessa comprida, desejo realizado!
"Há sempre um motivo para sorrires"

Ping Pong vivido

Não somos mais do que peças, pedaços do mundo à espera de serem encontrados. Um jogo sem partida e sem chegada, voltas e voltas sentidas mas sem sentido algum.
Dados lançados de olhos fechados, sorte vencida no meio do destino. Perigos saltados, paixões certeiras, gritos de socorro calados, ódios confundidos falados. Confusões escondidas, segredos descobertos, lágrimas felizes e sorrisos tristes, chão no céu e céu no chão, um jogo perdido no fim de ganho.
Paredes sem cor, sonhos acordados, desejos rompidos e beijos negados, amor encoberto entre jogos falhados.
Palavras concedidas, tréguas guardadas, esperanças ofendidas e fins ditados sem magoa. Guerras relembradas sem motivo, tragédias recuperadas sem poder, poder destruído no meio de poderosos.
Mundo estragado com culpados, mundo podre por mentalidades. Vencedores vencidos e vencidos vencedores, um mundo ao contrário sem sequer pestanejar.
Dias de nada, dias de tudo, de dia puro, de noite escuro!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Promessas de nada

Um dia tropecei no silêncio e tivemos uma conversa de gente, eu perdi-me sem palavras e ele confessou-me cada silêncio.
- De que vale uma promessa? (pergunto eu baixinho sem que ninguém perceba)
- Vale de pouco, de quase nada, promessas faladas, escritas ou marcadas, não valem nada. (Responde o silêncio)
- Então o que vale afinal? (pergunto eu a medo)
- O que vale? O que vale são as vozes que não se ouvem, é o amor que ninguém mais sente, o que vale são as promessas escritas no silêncio que ninguém conhece. (explica o silencio)
- Quando vou saber que o amor que sinto, ninguém mais sente?
- Nunca vais saber, nunca o vais entender. Vais sentir sem perceber ou sem querer, mas ele vai andar sempre juntinho a ti, contra todas as tuas verdades. Vai-te destruir, vai-te construir, vai fazer com que caias de um último andar, mas também te vai dar o céu.
- Eu não quero cair, tenho medo!
- Quando começares a cair, vais ganhar coragem para a próxima queda e sempre que estiveres no céu, vais te esquecer que podes cair.
- Promete-me que comigo vai ser diferente?
- Não posso, as minhas promessas não valem de nada quando são faladas!
- Posso-te contar um segredo?
- Podes, eu não o consigo contar a ninguém…
- Eu sinto esse amor sem querer, tropeço em cada verdade, fico sem ar a cada queda, caio sem parar como uma criança desajeitada. Mas quando estou no céu esqueço todas as armadilhas que aparecem no meu caminho e amo em segredo o amor.
-Amas em segredo sem ninguém ver, tens uma vontade que nasce dentro de ti e ultrapassa mundos, tens a força presa aos teus ossos que te levanta mesmo sem tu quereres. Choras noites de lua, porque te sentes sem luz.
Enchi-me de coragem e disse baixinho: - Promete-me, que vai valer a pena?
O silêncio olhou para mim, tocou no meu medo e disse: - Promete-me que nunca mais vais questionar se vale a pena!
- Porquê? Não vale?
- Porque no dia que não valer a pena, o amor vai ser engolido pelas promessas escritas e faladas. E eu que hoje sou a voz do amor, vou ser apenas mais um!
Desde esse dia, desde essa hora, eu acredito que tudo vale a pena!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Apetece-me

Apetece-me gritar risos sem motivo, rir horas sem razão ou vontade, rir por rir sem certezas. Tenho uma vontade de negar tudo o que é certo e amar-te como se não fosse errado. Calar gente que mal sabe o que dentro de nós se sente. Quero amar-te sem tempo, amarrar-me ao teu corpo sem hora, perder me nos perigos sem medo.
Apetece-me gritar, falar baixo, segredar ao teu ouvido, dizer-te tudo o que já disse e o que nunca direi, confessar-te incertezas e lembrar-te vontades. Sentir o teu peito, ouvir o teu coração, prender-me ao teu cheiro, sem feitiços ou enredos.
Apetece-me parar o tempo, parar a estrada e o mundo, estatuar as pessoas nos segundos. E nós conquistados pelo nosso amor, devorados pelas certezas e desprendidos de consequências, perdidos nesse tempo que vira nosso e nós viramos o tempo.
Apetece-me dizer que te amo, sem te assustar ou comprometer. Mais que nunca tenho vontade de dizer que te quero sem autorização ou data marcada, porque eu quero-te hoje, quero-te agora, quero-te como nunca quis e como quis todos os dias, com ou sem papel, com ou sem certezas.
Apetece-me sem motivos e por todos os motivos, por tudo o que é conhecido e por tudo aquilo que ninguém conhece, por tudo o que ninguém sente e que nós tocamos sem sequer pensar.
Por todas as palavras caladas e por todos os sorrisos sem riso, apetece-me parar o tempo e ficar contigo!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Preciso de ti...

Durante a noite escura onde tudo acontece sem previsão ou aviso, é durante essa mesma noite que a lua vem aquecer o frio e proteger a noite do escuro.
Ninguém repara, quase que parece nada, mas ela vai aparecendo sempre que o tempo deixa. Aquece as mãos da noite, amarrasse aos braços dela como se fosse um amor eterno e não existisse mais dia, gente ou inferno, apenas noite e lua e o escuro deixaria de ser escuro.
É no silêncio que se amam como loucos, é no silêncio que se conhecem sem mais ninguém pensar e traçam sem tempo e sem pressa cada estrela da sua história. É entre vozes perdidas que riem do escuro, que fazem promessas incompreendidas e que se amam como já não se ama de dia.
São cobaias do amor, amantes do escuro! Não ouvem magia, nem poesia, conquistam cada parágrafo como se fosse o último. Não ouvem gente, porque gente não sabe nada sobre o escuro, vivem implantados no dia e desconhecem o amor que teima a existir entre a noite e a lua.
Amor de meninos que amam sem querer, amam sem motivo e sem necessidade. Amor que se vive sem certezas ou liberdades. Amor prisioneiro que é livre de preconceitos ou conselhos.
Por muito que a noite passe a dia e o dia queira ser sempre dia, a lua vai sempre voltar para proteger a noite do frio!
...como a noite precisa da lua!

Erros que cometi

Neguei-te como menina que nega um doce, disse que não a todos os meus sins, quis tirar-te da minha vida à força como se tratasse de uma página rasgada, apagada pelo tempo, amaçada e perdida no passado.
Esqueci por um segundo cada beijo, cada rosto apaixonado ou cada olhar preocupado, esqueci história de anos e quis ser feliz por um segundo sem depender do teu amor. Corri mundo sem pedir, olhei para todas as estradas e não conheci nenhuma calçada, discuti com a vida e ela discutiu comigo, horas de conversa que valeram tudo, mas não me devolveram nada.
Desmanchei-me em verdades quando te olhei, senti esse cheiro que mais ninguém sente, encostei-me ao teu ombro sem sequer lhe tocar, contei-te segredos sem ser preciso falar. Fui tua sem querer e sem ninguém perceber, sou tua sempre que te olho e te imploro com os olhos sem palavras ou exigências que me ames só mais uma vez.
Horas perdidas e ganhas, certezas devolvidas sem remetente, amor escondido com medo de quem veja, amor envergonhado por não ser amado. Sinto certezas sem as querer ter, sinto medo do hoje e esperanças de um amanha diferente.

Páginas da minha vida

Fui menina sempre que soltei um sorriso sem querer, sempre que pensei que o eterno existia. Fui princesa do meu próprio castelo, vencida quando as lágrimas percorriam o meu rosto e o mundo ficava sem chão.
A menina foi desaparecendo entre as lágrimas, o rosto foi secando e o coração foi criando marcas, a menina virou mulher! A mulher hoje diz te não, vê-te como um capitulo fechado e não tem vontade de o ler. Páginas macias, letras apaixonadas, vírgulas quebradas, palavras escritas em silêncio, amor escondido entre sílabas, promessas ditas entre linhas falhadas, sorrisos escondidos…palavras no meio de sentimentos e sentimentos no meio de palavras. Fui feliz, muito feliz, tão feliz que me esqueci do tempo e o tempo esqueceu-se de mim.
Fui prisioneira do teu amor, fiquei tão cega que eu própria me esqueci de mim. Sou mais que rapunzel do teu castelo, hoje sou cinderela do meu mundo e sei que não preciso do teu beijo para ser eternamente feliz.
Entre linhas e vírgulas soltas, aprendi que é do ponto que preciso agora, um ponto longo, um ponto que me liberte deste capítulo esquecido.
Hoje quero ser pedaço de mim mesma, quero rir com vontade, quero escrever mais que uma palavra, mas não quero cair em cada vírgula, hoje quero ser mulher do meu mundo.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Autorização para amar

Há momentos que valem mais que qualquer palavra, há sorrisos que só precisam do silêncio, há amores que não necessitam, de papel, contrato ou qualquer tipo de jura eterna. Há amores que duram uma vida inteira, mesmo que o tempo não queira.
No meu mundo, que não está bem, nem mal, vai andando como o tempo. É no meu mundo que eu observo de longe o que se passa lá fora, foi do meu mundo que eu encontrei entre mentiras e verdades, este amor que me prende a ele como se fosse meu.
Vivo cada esperança, cada derrota, cada vontade, como se fosse a minha própria vontade, é tão minha, que me agarro com mais força a ela do que as próprias personagens. Sinto-me narradora de um segredo, que ninguém vê, respira ou sente, sinto-me espectadora assídua de um programa fantasma, que mais ninguém conhece, mas que eu decoro cada fala.
Hoje sinto que cheguei ao céu sem chegar, parece que o mundo ficou mais claro e que posso chegar às nuvens, porque entre silêncios, preconceitos e certezas, bastou um sinal e eu vi o mais digno de todos os olhares, vi o amor diante dos meus olhos a pedir se podia amar só mais um segundo em segredo.
Como se nega ou se impede um amor que pede autorização para amar? Um amor perdido no meio dos homens, um amor sem rumo, mas com o caminho traçado, um amor negado em multidão, mas amado no meio do escuro, amado no meio de nada e cheio de gente. Grite quem tem coragem para ficar parado ao ver tanto amor diante os seus olhos, fique calado aquele que não acredita que no amor nada é impossível. Porque eu, vi-o diante dos meus olhos, ninguém me contou ou fez história, foi só mais um segredo escondido no meio de vozes que não valem nada, mas que neste mundo destroem sorrisos e atrapalham amores imperfeitos sem querer.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sonhos gastos

A noite cai tão rápido, já faz muito tempo que o dia parece-me sempre noite. Deito-me em sonhos e caio nos pensamentos que mais ninguém sabe, riu, faço planos no meio de nada, vejo cores, formas e luz, no meio do escuro.
Esta noite não vou sonhar contigo, não quero, já disse que não quero, quando começo não consigo parar, esta noite vai ser diferente, mesmo que me venhas assombrar durante a noite, eu vou negar-te, não quero acordar e sentir que passou um tufão na minha vida.
No meio de palavras que não valem nada, adormeço sem saber porquê e quase que consigo tocar em cada vontade minha, está tão perto, tento resistir a cada palpitação, afasto-o dos meus olhos, mas no escuro traço cada forma sem ver.
A lágrima tenta escapar, mas eu sou forte, luto contra cada pesadelo que tende a passar por mim, afasto vilões e malvados e a cor volta, consigo ver sem que mais ninguém veja. Volto a fazer planos, imaginar o passado e mudar cada coisa que não fiz, agarro-me com força a este sonho, esqueço as vezes sem conta que o neguei, quero-o como nunca quis outro.
O sonho escapa-me entre os dedos, fica frio de repente e os olhos querem abrir como acontece todos os dias. Quando estou quase a ser princesa do meu castelo, cada pedacinho do meu mundo encantado desaparece.
Não vou chorar, hoje não, vou acordar e ser rochedo, vou ser mulher do meu mundo e esquecer que vacilei em segredo, o sonho vai ser puro esquecimento e a felicidade, na realidade uma ilusão e quando chegar a noite, vou negar-te ainda com mais vontade e depois escorregar nos teus braços como se a noite fosse para sempre noite.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Lugares que desconheço

Olho em redor e nada me pertence, nada me aquece, nada me prende a este chão gelado. O aconchego que encontrava, agora não encontro. Estamos separados, porque estas paredes já não me cativam, as cadeiras já não transportam nomes, transportam rostos sem cara, esta história já não me pertence!
Já não tem o mesmo cheiro, o tijolo é só tijolo e o toque que oiço, é o passado destruido por este presente. Desconheço este lugar, assusta-me desconhece-lo, mas nem lhe reconheço o sorriso, hoje é apenas esquecimento, memória, falta-lhe as pessoas, histórias contadas, segredos falados, falta-lhe vida. Tu já foste casa, família e adolescente, hoje não passas de nada, és apenas o que foste num outro dia.
Lugar que eu amei, fixei-me com garra, lugar onde eu me perdi, que eu conheci e me cativou, lugar que hoje eu desconheço sem querer!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Dono do tempo

Segredo-te a minha vida, como nunca contei a ninguem. Digo-te todos os pontos e confesso-te todas as virgulas que apareceram no meio do meu caminho.
Cale-se tudo, homens, mulheres, que falem apenas de sentimentos, que se envolvam com estes como se não existisse mais parágrafos neste texto. Que o tempo pare, que vai com pressa! Pare o mundo, porque eu agora quero amar-te sem que ninguem interrompa, quero amar cada palavra e perceber todos os significados.
Não sei tratar-te por tu, nunca vou saber, não te sei explicar, mas ninguém ia entender. Amo-te tanto primeiro amor! Primeiro? Existe outro? Quem foi o poeta, escritor, médico ou professor, que foi ingénuo para pensar que existiria outro? Não há nenhum como o primeiro. Amarra-nos sem querer, prende-nos às memórias, conquista-nos a cada pulsação mais acelerada, conhece-nos sem nos conhecer. Ai saudade, saudade que eu tenho de ser tua e tu meu, viver nesse jogo, sem tempo, nem regras, esse jogo nosso e só nosso, que nem nós próprios somos dignos de o controlar. Consigo sentir-te quando fecho os olhos, imaginar cada traço do teu rosto, és tão meu sem me pertenceres, és o meu primeiro amor, o meu maior amor!
Vem jogar comigo este jogo, vem ser meu, faz de um segundo uma hora e uma hora numa vida inteira, vem ser dono do tempo, vem fintá-lo sem ele estar à espera. Mas vem, vem ser meu mais um segundo!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Amo-te, porque te amo

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade