terça-feira, 17 de março de 2009

O teu primeiro amor

Choras de saudade, de vontade ou impotência, sentes que o mundo levou parte de ti, levou o teu chão e céu, sentes que nada faz sentido e tudo foi tempo perdido. O teu sono torna-se leve, vulnerável a cada chapada do passado recordada, adormeces sobressaltada e encontras-te em pesadelos e sonhos negados.
O tempo vira longo como o dia, o mês ou o ano, tudo parece o dobro, menos o teu sorriso. Isolas-te do mundo, dás parte de ti a um amor perdido, montas cada peça do jogo e fazes mil e um planos para conquistares de novo o teu mundo. Perdes-te em palavras ditas para ti, em vontades guardadas nas tuas paredes, envolves-te na saudade e desejas ficar ali para sempre protegida do mundo e dos olhares indiscretos à tua tristeza.
Sentes que vais ficar ali para sempre, agarrada ao teu amor, à tua história encantada sem final feliz, prendes-te a uma certeza que já não existe. Culpas-te do bom e do mau, rebaixas-te ao mais profundo lugar e compreendes que jamais vais ser feliz, que será impossível amar como amas o teu primeiro amor.
Cais em ti, passam pelos teus olhos imagens de um amor feliz, um amor ingrato e um amor magoado, imagens que tu construíste, que tu lutaste e alimentaste, imagens que o prefeito destruiu como lego ou castelo na areia, imagens que tu montaste vezes sem conta, que amaste até ao último segundo e que vais guardar para todo o sempre.
Dizem-te o justo e o injusto, o mais próximo e o mais desconhecido, palpitam a tua vida como novela de horário nobre, um dia colocam-te no pódio, no outro bem perto do chão. Engasgas-te em palavras, perdes-te em certezas, solta-se um grito mais alto e contas as tuas próprias vontades, desejos e ambições, confessas o teu amor sem medo e ouves um não sem demora. Confrontas-te com o teu presente, passado e futuro, sentes um beco sem saída, uma porta fechada.
Discutes com a vida e ela discute contigo, sentes-te usada, mal tratada, sentes que nada vai melhorar e vais para sempre ficar magoada. O dia parece sempre noite, as lágrimas não secam nem por nada, os teus pedidos são ignorados pela vida, o destino tende a cruzar os vossos olhares, o teu coração fala o que a tua boca quer esconder.
O dia vai ficando mais claro, o príncipe deixa de mandar no castelo, passa a ser miragem no deserto, gaveta fechada e arrumada, quando andas deixas de olhar para traz, quando dormes deixas de pensar no beijo dele e quando acordas sentes que tens um mundo lá fora para descobrires. Descobres que é a tua vez de fechares todas as portas, de encurralares todas as entradas e tu própria acreditares que ele não passa de passado, de história vivida e acabada, que hoje é apenas parte da tua adolescência, um sonho de meninos e de um amor apaixonado.
Ouves o dia lá fora, sentes o cheiro do mundo, olhas as caras novas e prendes-te a uma vida sem promessas. Respiras o que já não sabias respirar, afastas todos os teus sonhos passados, vês claro, vês escuro, vês vermelho e amarelo, vês tudo sem precisares da outra metade.
Sussurra-te uma vontade maior que tu próprio, para cresceres entre a magia e a realidade, para enfrentares o sol e a chuva e para jamais negares o novo dia.
Expiras segredos e inspiras vontades, escondes uma história, longa ou curta, mas vivida e passada. Entregas-te ao fim, não lutas mais contra as palavras, deixas-te ir como onda adormecida, cansas-te do não e do sim, cansas-te do teu próprio gostar. Integras-te noutro lugar, noutra história ou noutra promessa, mas deixas esta passar, porque já vai longa e sem sentido.
Um dia olhas para traz com um sorriso, a mágoa passa-te ao lado, o amor traz-te saudade, percebes o quanto cresceste, o tão grande que foste e tens orgulho em cada passo teu, o mau torna-se quase invisível, o bom guardado como magia e ele vai ser apenas e para sempre o teu primeiro amor.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Esta é a hora

Passaram mais de muitos dias, desde o dia que vim ao mundo, passaram mais do que muitos anos desde o dia que descobri o amor, passaram mais do que muitos meses desde o dia que eu descobri a derrota e nem por isso o mundo parou, estagnou ou deixou de existir.
Esta é a hora, a hora de mudar o que jamais vai ser mudado, de acreditar que o passado já vai longe e o presente com uma vontade enorme de ser vivido.
Esta é a hora, a hora de negar todas as promessas, sonhos ou irrealidades que me pararam no tempo como ponteiros sem arranjo.
Esta é a hora, de lhe ligar e dizer o quanto fui feliz sem perceber, é a hora de dizer as vezes que chorei e as vezes que ri como tonta.
Esta é a hora, de colocar de lado as diferenças, a mágoa e esquecer a magia dos olhares cruzados.
Esta é a hora, porque a hora tem tempo, nome e não pára como gente, temos de apanhar esta hora, antes que ela nos escape no meio da rebeldia do tempo. A hora é curta, a hora é longa, a hora é aquilo que nós quisermos, a hora é hoje e não amanha, nem ontem, a hora é história, é presente, é amores vencidos e amores vencedores.
Esta é a hora de acreditar que passarão mais dias e muitos dias, desde o dia desta hora, que virão muitos amores, desde o dia desta semana e que lá fora, onde existe horas e mais horas perdidas e prontas para serem agarradas, está um mundo novo à minha espera.
Esta é a hora, a hora que se rasga cartas ditas de nada, onde se guarda amores desajeitados, é a hora que vai carregada de saudade, desejo ou vontade, mas uma hora que o tempo não deixa voltar.
Esta é a hora de lembrar cada pedaço mau, cada pedra no meu caminho, é a hora de negar tudo o que eu quero, de odiar tudo o que eu amo, de adormecer cinderela e acordar noutra história.
Esta é a hora de querer o que não quero e de dizer o que nunca disse, de ser o que nunca fui e dizer não àquilo que sempre disse sim.
Esta é a hora, a hora de voltar a ser feliz!

segunda-feira, 9 de março de 2009

Nevão sonhado

Dias de amores-perfeitos, dias de nada cheios de tudo, sorrisos sem graça no meio do infinito, quedas partilhadas sem medo do tombo, vontades conquistadas e saudades de um mundo novo. Não passas de nada, a não ser miragem, foste neve na minha vida e gelo que passa sem volta, levaste-me ao pico mais alto e fizeste-me acreditar em príncipes. Não és amor, nem paixão, muito menos casamento ou para sempre, és o sonho que passa e não volta, o rapaz com graça que nos marca na praça. És o olhar de ternura, as palavras de vontade, és o sonho de uma madrugada, a certeza de uma serra, és o nevão que passa sem deixar mais rasto.
Saudade do silencio que murmurámos juntos, das vezes que eu te toquei sem tocar, das palavras ditas no nada e compreendidas por gestos, lágrimas derramadas sem choro, desesperos partilhados sem barreiras, almas encontradas e escondidas no alto mais alto da montanha.
Dias esquecidos do resto do mundo, sem medos acumulados, sem desilusões contínuas, protegida por o desconhecido perfeito, abraçada ao tempo, perdida em cada pegada nossa, sem passado, sem futuro, apenas nós, no meio do sonho contado ao segundo, sonho jamais regressado, mas sonho jamais esquecido.
O frio aqueceu-me o que o calor gelou, a neve foi brasa no meu corpo, foi conforto no que já não conhecia vontade ou sorriso, foste mais que miragem, foste o início quando já não havia começo.
Foste príncipe sem cavalo, foste neve derretida, foste sonho sem sentido e beijo congelado, foste eterno durante segundos e passageiro para o resto da vida.
Mi príncipe de nieves!

terça-feira, 3 de março de 2009

Escapar da tua vontade

Gostava de dizer que entendo sem entender, gostava de fechar os olhos e ver claro onde vejo escuro e gostava que me visses como gente e não como boneca do teu mundo.
Sou a tua areia, sou a pegada mais profunda do teu caminho, amo-te mais que tudo meu mar, fui feliz em todas as tuas ondas, adormeci em cada baloiçar do nosso amor e ninguém vai apagar a nossa praia.
Amor, entrelacei-me ao teu mundo, às tuas vontades, pisaste-me sem querer ou por querer, mas o tempo já vai longo, as ondas distantes e a vida cansada de esperar por ti.
Hoje, só hoje amor, deixa-me escapar-te entre os dedos, deixa-me apanhar este vento e perder-me noutro vendaval. Sofre, chora, mas enquanto não fores homem, não me olhes, não me pises e não me prendas ao teu mar.
No Outono as folhas caiem, ninguém as amarra à árvore quando sabemos que elas têm de cair. Quando os filhos crescem voam do ninho, não lhes podemos cortar as asas com medo que não voltem. Na vida há aqueles que entram e ficam para sempre e outros que passam, aplaudem, gritam, deitam foguetes e fazem a festa, mas acabam por partir.
Acorda, isto é mais que um jogo, muito mais que um sonho, espancaste o nosso amor, agora é a minha vez de escapar da tua vontade!

domingo, 1 de março de 2009

Menina de colo

O peso de já não ser menina sente-se em todos os sentidos, desejo baixinho não ter crescido, começo a dar valor a todos os centímetros a menos que tinha. Baixo a cabeça por segundos, encontro-me comigo mesma e percebo que a vida mudou, que todos os dias muda e que eu já não sou menina de colo. Imploro com os olhos um carinho sem eu estar à espera, fico ansiosa por um abraço quando caio e sonho por momentos que vou me levantar sem sequer me mexer.
Saudade de baloiçar de colo em colo, de eu ser apenas sorriso e não conhecer a palavra “saudade”. Perco-me em todas as recordações passadas, que não voltam, nem se mexem, estão mortas no mundo de hoje, mas são eternas nos olhos de menina. Lembro-me das gargalhadas, das pessoas que passaram pelos meus olhos, recordo-me do que gostei e do que gostava de esquecer, recordo a minha vida num segundo, percebo que ela ainda é pequenina, mas que hoje, já tem tão pouco de menina.
Cresce uma vontade em mim de gatinhar, rir de tudo e de nada, agarrar na boneca mais pomposa e fazer dela a rainha da festa, apetece-me sonhar com o príncipe que não existe, mas que nos ilude durante uma vida de sonhos.
Entrelaçar-me nos beijos da mãe, nos beijos do pai, nos beijos refinados dos avós, ficar presa a um mundo pequeno, a um mundo protegido. Tropeçar só no recreio, assustar-me só com o papão, chorar só por fome e rir, rir do mundo, das pessoas, do sol e da chuva, rir com vontade por ser só menina de colo.
Queria amarrar-me àquela idade, sonhar em ser grande, mas nunca o ser na verdade, imaginar beijinhos de namorados, calores apaixonados, casamentos desejados, dias perfeitos e um amor encantado, brincar aos príncipes durante horas no meu mundo de cinderela. Mas só isso, uma brincadeira no tempo, esquecida e vivida apenas no quarto de menina, sorrisos felizes sem conhecer a realidade, ilusões perfeitas num mundo realmente imperfeito, felicidades escondidas durante sonhos prometidos, mas nunca concedidos.