quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Monstro

Não esqueço, simplesmente não arranjo vontade, não desapareço nem evaporo apenas me escondo das letras quando os números e a ciência atropelam os meus pensamentos.
Amanha? Amanha, é o dia mais importante da minha vida, vão ser as três horas mais rápidas de sempre a ditar o meu futuro, para trás ficam sonhos, desejos e vontades, mas amanha quero ser mais que grande, exijo ser a melhor até ao último toque. Quero sentar-me naquele lugar que um dia foi meu e despedir-me sem um único adeus, quero recordar o que vivi naquela sala sem por um segundo ter vontade de voltar, quero arrumar o passado no passado, fechar o livro com história prolongada, guardar parte de mim e recordá-la para sempre.
Passou um ano e amanha será o primeiro dia do resto da minha vida, sinto pânico de falhar, de errar por algum motivo, de bloquear sem motivo algum, de perder-me no meio dos números e não encontrar palavras para os explicar e ficar presa a uma história que deixou de ser minha à 365 dias atrás.
Fico perdida quando penso que posso voltar a ficar num lugar vazio e cheio de caras, num lugar frio que já não me conhece, arrepio-me de imaginar esses 365 dias de novo na minha vida a prenderem-me ao que eu já à muito me despedi.
Amanha, vou agarrar em mim e nos outros todos que fizeram parte de mim um dia, vou sentá-los ao meu lado naquele lugar que foi nosso, vou recordar cada momento e cada pessoa do meu secundário que me amarrou àquele lugar todos os dias, vou calcular a complexidade dos sorrisos, a probabilidade das lágrimas e até a trigonometria dos amores mal resolvidos, vou elevar ao cubo cada rosto que passou por mim naquele lugar, e por fim guardar a nossa história num gráfico com pontos marcados e conhecidos, em traços vincados e jamais esquecidos, vou guardar parte do meu mundo num gráfico que começa, percorre intervalos eternos, mas que termina sem recuos.
Saudades? Ai saudades de tardes, manhas, saudades do passado que não volta, que se guarda e recorda, saudades dos beijos, abraços, palavras e gargalhadas, mas no entanto não foi o secundário que fez de mim gente, foram os rostos, os sorrisos e os nomes que fizeram de mim mais do que menina, hoje uma mulher, pronta a enfrentar o monstro, preparada para traduzir as minhas vontades em números, senos, tangentes, sem nunca em momento algum colocar limites nos meus sonhos, porque esses vão fazer de mim pedacinho do meu próprio futuro.